Desvendadas alterações que aumentam risco de desenvolver cancro gástrico hereditário

06/02/23
Desvendadas alterações que aumentam risco de desenvolver cancro gástrico hereditário

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desvendaram alterações no gene que aumenta o risco de desenvolvimento de cancro gástrico difuso hereditário, abrindo portas à utilização de três novos critérios de identificação.

Em comunicado, o instituto do Porto revelou recentemente que o estudo, publicado na revista Lancet Oncology, identificou as alterações no gene CDH1 que “especificamente aumentam o risco de desenvolvimento dos cancros associados à síndrome de cancro gástrico difuso hereditário”.

A síndrome de cancro gástrico difuso hereditário, causada por alterações no gene CDH1, afeta perto de 50 mil pessoas por ano em todo o mundo, sendo que os portadores dessas alterações apresentam um elevado risco de desenvolver cancro do estômago (homens) e da mama (mulheres) em idade jovem.

Quando conhecida a causa genética da doença, a prevenção e sobrevida dos doentes são maximizadas se o estômago ou mama forem removidos profilaticamente após os 18 anos e antes de a doença se manifestar.

Na investigação foram estudadas as diversas variantes que ocorrem no gene CDH1 e provado que “apenas as alterações que eliminam a produção de Caderina-E aumentam o risco de desenvolver cancro da mama e cancro do estômago”, esclarece, citada no comunicado, a investigadora a Prof.ª Doutora Carla Oliveira.

A clarificação das variantes do gene da Caderina-E que acarretam maior propensão de desenvolver a síndrome e os tipos de cancro mais prevalentes permitem “repensar os critérios clínicos para teste genético, no sentido de melhorar a gestão clínica de famílias portadoras destas variantes”, salienta, também citado no comunicado, o primeiro autor do artigo, Prof. Doutor José Garcia Peláez.

“Ao clarificarmos as mutações especificas no gene CDH1 que constituem um risco real para o indivíduo e quais as mutações que não são preocupantes, conseguimos avançar com três novos critérios clínicos, a somar aos atualmente utilizados, que ajudarão a identificar famílias em risco”, acrescenta o investigador.

O estudo abrangeu dados de 854 doentes portadores de 398 variantes raras diferentes do gene CDH1, assim como mais de 1000 familiares que foram seguidos clinicamente e desenvolveram cerca de 2000 cancros, acrescenta a Prof.ª Doutora Carla Oliveira, notando que este foi um “trabalho multicêntrico”, ao recorrer a dados de 29 laboratórios de 10 países europeus.

Para a realização do estudo, os investigadores recorreram ainda a informação dos testes genéticos e dados clínicos disponíveis na Rede Europeia de Referência em Síndromes de Risco de Tumores (ERN-GENTURIS).

As conclusões deste estudo “permitem propor critérios clínicos mais assertivos que maximizam a identificação de famílias em risco para esta síndrome”, salienta também a investigadora.

Estes novos critérios clínicos serão validados entre pares na próxima reunião do consórcio do projeto que reúne especialistas internacionais e decorrerá no Porto em 2024.

“As implicações não são apenas no sentido preventivo individual, estamos a falar de uma síndrome de cancros hereditários, ou seja, que tem implicações familiares, afetando os doentes e, com grande probabilidade, também os seus familiares de sangue”, acrescenta a Prof.ª Doutora Carla Oliveira, lembrando que o estudo pode ajudar inúmeras famílias a tomar decisões informadas para a gestão individual de risco.

Além dos parceiros europeus da ERN-GENTURIS, a investigação contou com a participação dos grupos de investigação “Population Genetics & Evolution” e “UnIGENe” do i3S, do Ipatimup Diagnósticos e de equipas do Centro Hospitalar Universitário de São João, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, IPO-Porto, GenoMed, Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e Porto Comprehensive Cancer Centre Raquel Seruca.

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