“As expetativas são altas, tal como aconteceu em edições anteriores”, uma vez que este Congresso é palco de debate para os desafios da área, contribuindo desta forma para a evolução da Virologia. Para o diretor da Clínica Universitária de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, este é um evento para farmacêuticos, médicos especialistas em Medicina Interna, Pneumologia, Infecciologia, Patologia Clínica, Microbiologia Clínica e todos os interessados nesta área, apostando uma vez mais numa perspetiva abrangente e multidisciplinar confirmada pela necessidade de colaboração para fazer frente aos desafios impostos pela pandemia SARS-CoV-2.
Este Congresso “tem desempenhado um papel importante na divulgação e na análise das pandemias que periodicamente assolam a humanidade com uma abordagem variada, privilegiando a interação entre a clínica e o laboratório como fatores potenciadores da evolução da ciência médica", afirma o especialista, reforçando que o programa científico “foi desenhado com a garantia de interesse e transversalidade na abordagem às diferentes pandemias, fazendo um ponto da situação às existentes, mas também tentar dar um salto em termos de aproximação para as futuras”.
A reunião “tem 20 anos de existência e a necessidade da sua criação resultou da existência de uma lacuna no panorama científico português da altura, em termos de formação associado às necessidades crescentes de conhecimento na clínica, no diagnóstico e na investigação no contexto do aparecimento da pandemia de infeção VIH/SIDA e da evolução da transplantação de órgãos cuja monitorização dependeu do desenvolvimento dos métodos de diagnóstico molecular e da bioinformática”, relembra o especialista.
Entre mesas-redondas, simpósios, comunicações orais e conferências destacam-se alguns temas desta edição, tais como "Infeções fúngicas em transplantação de medula óssea", "Resistência aos antimicrobianos: a pandemia silenciosa", "Pandemia infeção VIH/SIDA", "Viagens em tempos de pandemia" e "Qualidade e acreditação em saúde". Neste sentido, foram incluídos temas considerados “emergências de preocupação pública”.
Relativamente ao VIH/SIDA, há palestrantes dedicados à síntese dos números a nível nacional e outras perspetivas em relação à eliminação da infeção até 2030, “deixando de ser um problema importante em termos de Saúde Pública ou que, pelo menos, tenham um impacto bastante menor”, objetivo que o médico considera possível através do trabalho conjunto da sociedade, nomeadamente políticos, profissionais de saúde e outros parceiros sociais. “Havendo essa vontade, não há quaisquer obstáculos para atingir esta meta até 2030.”
No que diz respeito ao SARS-CoV-2, o especialista acredita que a infeção vai inevitavelmente desaparecer. “Não creio que ficará endémica”, aponta, explicando que a nível europeu são expectáveis vários cenários, tais como o fim da circulação do vírus, mas também medidas preventivas para combater um provável aumento do número de casos no inverno, mas “cenários controláveis”, resultado também da imunidade natural e da vacinação.
A resistência aos antimicrobianos é outro dos destaques do programa científico, descrito pelo presidente como uma “pandemia silenciosa”, sendo por isso importante conhecer as realidades das várias unidades hospitalares. “Neste combate, precisamos de desenhar medidas para atuar perante esta realidade, mas para tal é preciso que haja um conhecimento básico do panorama nacional”, acrescentou, explicando que durante o mês de maio, no âmbito de um programa do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), se vai realizar um rastreio a nível nacional, que fará também esse levantamento da prevalência da infeção, “indicando desde já os focos de resistência, que variam de acordo com a temperatura e local dentro deste mundo global”. Neste sentido, o médico afirma que esta iniciativa é bastante importante, uma vez que contribui para uma maior vigilância desta problemática.
Neste contexto, a Medicina do Viajante “desempenha um papel extremamente importante em termos de aconselhamento e prevenção das infeções associados à variação geográfica”. No entanto, tal como descreve, na maioria das vezes a consulta apenas se realiza previamente à viagem, não se fazendo o acompanhamento no regresso, impedindo o seguimento de certas infeções que podem ser assintomáticas e, consequentemente, da melhor abordagem terapêutica.
Além destas, as pandemias associadas aos diferentes animais são uma preocupação de Saúde Pública, dado que podem ter implicações no homem, tal como aconteceu com a gripe das aves e o SARS-CoV-2, conclui o Prof. Doutor Vítor Duque.